Hoje, no momento em que escrevo, nós os fazedores de teatro, como tantos outros artistas das diversas artes, estamos atrás da cortina, nos bastidores. Agarrados à esperança de melhores dias. Somos ao longo dos séculos o espelho do tempo em que nos encontramos, seja na Grécia e as suas Tragédias, Itália e a sua Commedia Dell’ Arte, Inglaterra e o seu Shakespeare, Rússia e o seu Tchekhov, Alemanha e o seu Brecht, seja Portugal e o seu Gil Vicente e Bernardo Santareno. Vivemos agora no tempo em que um vírus microscópio nos devora, sem olhar à nacionalidade, cor, credo, estrato social e género. No tempo de grandes migrações, de gente que foge da guerra, um tempo em que parece que os humanos se despiram da sua humanidade. Haverá dramaturgos e escritores que escreverão textos sobre este terrível momento. Sou, antes de outra qualquer função que já exerci no Teatro, actriz e é assim que me defino. Actriz e mulher livre. Mas quando há temas que me tocam e preciso de expressar o que me inquieta, por vezes só através da encenação me resolvo.
Today, at the time I’m writing, we theatre makers, like so many other artists in the various arts, are behind the curtain, behind the scenes. Clinging to the hope of better days. We have been, for over centuries, the mirror of the era in which we find ourselves, whether it be Greece and its Tragedies, Italy and Commedia Dell’Arte, England and Shakespeare, Russia and Chekhov, Germany and Brecht, or Portugal with Gil Vicente and Bernardo Santareno. We now live in a time where a microscopic virus devours us, with no regard to nationality, color, creed, social status and gender. At the time of great migrations, of people fleeing war, a time when it seems that humans have stripped themselves of their humanity. There will be playwrights and authors who will write about this terrible moment. I am, before anything else, an actress and that is how I define myself. An actress and a free woman. But when there are subjects that touch me, I begging to feel the need to express what worries me, sometimes I can only solve it through the creation of a theatrical piece.
WOS #1, CRIADORAS