GISELA CAÑAMERO

Foi a falta de justiça e de equidade que alimentou o sentir-me desajustada a uma ordem pública prenhe de rígidos padrões sociais e comportamentais que encontrei nas pequenas cúpulas de poderes instituídos do interior rural – apesar de, na altura, já contarmos com 20 anos após Abril; reconhecendo-me de menos na raiz, para citar um verso de Ana Goês, teria de me debater para que as minhas filhas – e o meu filho! – não vivessem o peso dessa herança social, o que me impeliu a nunca desistir, na exploração de universos próprios às mulheres, dando voz às autoras: escritoras e poetisas, as vozes silenciadas. E também trazer à luz textos de autores que, eles próprios, combatiam e combatem a misoginia e a discriminação social da mulher, sem nunca submeter as ideias às ideologias, a literatura ao panfleto.

It was the lack of justice and equity that had me feeling inadequate towards a civil order charged with rigid social and behavioural patterns that I found in small pockets of established power in the rural interior of our country – despite the fact that, at the time, 20 years had passed since the 25th of April (Freedom Day); recognising myself too little at the root, to quote a verse by Ana Goês, I would have to struggle so that my daughters – and my son! – would not have to live under the weight of this social inheritance, which impelled me to never give up in the exploration of universes for women, giving a voice to female authors: writers and poets, the silenced voices. And also to bring to light words by authors who, themselves, fought and continue to fight misogyny and social discrimination against women, without ever submitting ideas to ideologies, literature to pamphlets.

WOS #1, CRIADORAS