Continuo a ter muita dificuldade em definir-me, mesmo enquanto artista: nunca tive um objectivo, vou tendo paixões. E, leviana, não consigo escolher entre elas; se representar é fazer parte de uma experiência emocional onde quase tudo é permitido e quase tudo pode falhar, onde o nosso inconsciente colectivo é vivido, encenar é mais uma faceta da criação de teatro, tantas vezes indissoluvelmente ligada a representar. Tenho grandes dificuldades em corresponder ao desafio de escolher um trabalho para apresentar com mais detalhe. A impossibilidade da escolha é evidente se olhamos para os trabalhos que tenho dirigido, tão radicalmente diferentes que diria que o que pode caracterizar as minhas criações é que nenhuma se assemelha à seguinte. Um único traço comum lhes acho, ao menos a partir de certa altura – a poesia e o desafio. Portanto, compelida a referir as características principais do meu trabalho, apetece-me dizer, como Alberto Caeiro, que é o de não ter características nenhumas.
I still have a hard time defining myself, even as an artist: I never had a specific goal, I just keep having passions. And, flippantly, I cannot choose between them; if acting is part of an emotional experience where almost everything is allowed and almost everything can fail, where our collective unconscious is lived, staging is yet another side to theatrical creation, so often indissolubly linked to acting. The challenge of choosing one specific work to talk about in more detail is extremely difficult. The impossibility of this choice is evident if we look at the pieces I have directed, so radically different that I would say that what characterises my creations is that none of them resembles the next. I think they have a single common trait, at least from a certain point onwards – it’s poetry and challenge. Therefore, compelled to mention the main characteristics of my work, like Alberto Caeiro, I would like to say it has no characteristics at all.
WOS #1